"Minha vontade de conhecer Israel sempre foi enigmática, para meus amigos e para mim mesma. Passo longe de ser religiosa (e por isso mesmo, não tenho preconceito contra nenhuma religião e respeito todas, desde que não me venham encher o saco...), tenho pouquíssimas ligações com o povo judaico (na verdade, acabo achando os judeus meio fechados mesmo, para quem não é da comunidade. Isso pode ter razões históricas, e eu posso compreender, mas vivendo no Brasil, hoje, isso, para mim, fica parecendo gostar de ir em “balada japa”, sabe?). Ok, mas enfim, vontade, graças a Deus, não se explica, e casou perfeitamente com minha vontade eterna de ir pra Turquia, apesar da novela...
Como não tínhamos tantos dias e o
país é pequeno, foi fácil definir o roteiro: Jerusalém e Tel Aviv, sendo que de
Jerusalém, teríamos a oportunidade fazer vários “day-trips”. Foram dois dias
inteiros em Jerusalém, e três nos tais “day-trips”: um envolvendo Nazaré,
Cafernaum, Mar da Galiléia e Rio Jordão (onde a galera pode fazer um
“rebatismo” se estiver a fim), outro tour mais alternativo com um guia
palestino, em que fomos para uma parte do território palestino da Cisjordânia
(Belém e Hebron); e o último, para o nascer do sol em Masada (pensei que fosse
morrer subindo aquele negócio naquele calor dos infernos - detalhe: ainda eram
umas 5 da manhã. Foi mais difícil que Machu Picchu, juro! Tá bom, acho que isso é
exagero da minha parte...), a reserva natural de Ein Gedi e um mergulho no Mar
Negro.
Os dias foram mais do que
intensos. Em Jerusalém, é muitas informação, é muita coisa acontecendo no mesmo
lugar, é muito “pode isso, não pode aquilo” por razões milenares que vc vai
ouvir mas já vai esquecer, é tanto lugar onde “Maria nasceu”, “Jesus
chorou”, “Jesus supostamente teve a
última ceia”, “Jesus teve o rosto limpo por uma moça cujo nome não era, na
verdade mesmo, Verônica”, “Jesus foi entregue aos soldados romanos”, “Jesus foi
enterrado”, “Jesus foi crucificado”, “Maomé ascendeu aos céus”, é tanto lugar
sagrado para todas religiões... Além disso, eu já tava preparada para essa
discórdia árabe e judaica. E aí, você se depara com uns conflitos entre os
cristãos (etíopes, ortodoxos russos, ortodoxos sírios, ortodoxos gregos, católico
romanos - esses são só os que eu consigo me lembrar), que resultaram, inclusive,
na divisão física de um lugar sagrado à milésima potência, que é a Igreja do
Santo Sepulcro, que hoje, tem suas “salas” divididas entre essas religiões e ai
de quem se atrever a varrer a área alheia...
Jerusalém é surreal. Não tem
outra palavra para descrevê-la. Em qual outro lugar do mundo você vê meninos e
meninas de 18 e poucos anos, empunhando a arma e aproveitando para tomar um solzinho
(e depois de um tempo, passa a achar isso normal); vê pessoas discutindo com um
guarda mega armado, para provar que é muçulmano para pode passar por um portão “X”
e entrar numa área “Y”; e ao mesmo tempo, precisa abandonar todos sinais
religiosos (Bíblia, cruz, estrela de Davi, Torá etc etc) para entrar nessa área
“Y” e ver a coisa mais linda do mundo (o “Dome of the Rock”) com hora pra
entrar e hora pra sair; e o melhor de todos, no bairro árabe, vc vê estrelas de
Davi sendo vendidas ao lado de miniaturas do Corão, sem o menor pudor... Onde
mais você vê isso? ;o)
Ao mesmo tempo, fora dos muros da
cidade antiga, você tem uma cidade com pessoas jovens saindo à meia noite, pubs
com ótimas cervejas locais, restaurantes, barzinhos, um sistema de transporte
com trams modernos, uma das mais reconhecidas universidades do mundo, uma feira
super bacana (a Machne Yehuda), comércio vivo (e que toca “Gustavo Lima e você”
para chamar os clientes)...
Eu aproveitei aquela mesma companhia
que oferece free tours em várias cidades europeias (a New Europe) para conhecer
melhor Jerusalém. Fiz os três passeios oferecidos por eles: o free mesmo, que
dá uma geral na cidade antiga, e outros dois que são pagos, e valem muito a
pena: o Monte das Oliveiras e o Holy City Tour. Te prepara, que todos eles
duram ao redor de umas 3 – 4 horas, vc anda muito e o sol é ESCALDANTE (aliás,
única MEGA E CONSTANTE reclamação minha: calor!!!!)!!! E depois, me senti à
vontade para me perder sozinha na cidade (apesar de quase não ter sobrado
tempo, nem fôlego).
Dos tours para outras cidades,
gostei muito dos três, mas tenho de destacar o que fiz com a Green Olive Tours para Belem e Hebron, cidades do território palestino da Cisjordânia. Eu já
havia fechado este tour desde aqui do Brasil, depois de algumas pesquisas no
Lonely Planet e no Trip Advisor, porque para mim, seria inconcebível ir para
Israel e não ter uma ideiazinha do que era ser um palestino, do que envolvia a
questão do outro ponto de vista, do por que alguém quer ficar num lugar em que
tem direitos tão restritos. Amei o tour, estranhei o fato de um campo de
refugiados se parecer com uma favela brasileira (em alguns sentidos), amei
almoçar com uma família palestina, gostei do fato de que eles não se fizeram de
coitadinhos, de que entendem que nem todo israelense é seu inimigo. Também
entendo que eles não são a maioria, que os palestinos com quem conversei tinham
muitos senões com seus líderes, e eles já eram diferenciados pelo simples fato
de falar inglês (bem, diga-se de passagem). Mas eu achei que o cara disse uma
coisa que nós, brasileiros, deveríamos entender bem: it is not just about peace, it is about justice.
Muro em Belém |
Grafite em campo de refugiados |
Hebron |
Por isso, eu não sei se os dois
lados vão encontrar tal solução. Acho que um dia, possam viver em paz, mas
nenhum dos lados vai achar a solução justa, sabe? Tive a sorte de conversar, de
modo relativamente aberto, com jovens palestinos e israelenses, e acho que
ambos estão cansadíssimos desta história toda, e de viverem sempre atentos, e
sempre à beira de algo acontecer, mas ninguém é ingênuo em pensar que a solução
é “basta querer”, não é fácil assim... A questão é, sim, religiosa, política,
territorial, mas é totalmente econômica também. A diferença entre territórios
palestinos e israelenses, do ponto de vista econômico, é gritante, e eu não sei
como seria criar um país único com tanta diferença, ou dividir o país (e depois
a Palestina viveria do quê? Das “doações” dos países árabes vizinhos...? Ahan,
sei...)
De qualquer modo, eu, que não
queria nem deveria me esticar neste aspecto, já me alonguei pra caramba, né?
Mas é que a questão é tão latente que eu até achei estranho estar em Israel e
não ver quase nenhuma referência ao Holocausto, por exemplo. Sei que há museus
dedicados ao tema, mas não é como na Europa (Alemanha, principalmente) em que
você tropeça (literalmente, já ouviu falar das stolpersteine?)
em memórias. Não tinha pensado nisso, mas pensando bem, foi muito bom assim,
Israel já tem coisa demais e eu não conseguiria lidar com mais informações e
pensamentos (apesar de me interessar pelo assunto, e de haver visitado alguns
museus e bairros judeus em outros lugares, estar em Auschwitz foi tão
impactante para mim que deve ter esgotado a capacidade que tenho de encarar e
digerir certos fatos da nossa história... de verdade... e pro resto da vida).
Tel Aviv parece outro país, não
tem nada a ver com Jerusalém. Eu achei que Tel Aviv é a cara e o jeito da Zona
Sul do Rio de Janeiro. As praias, os calçadões, as lojas de sucos, as pessoas
andando de havaianas (há várias lojas de havaianas espelhadas pela cidade!
Super sucesso!). Dizengoff poderia estar em Ipanema, e ninguém ia achar
estranho. Rsrs! Mas tem algumas diferenças, claro: Tel Aviv é primeiro mundo,
com todos privilégios que isso oferece (segurança, sistema de transporte
eficiente e educação de primeira - Estou falando primeiramente do quesito
formal: todo mundo fala inglês. Por isso, apesar das coisas estarem escritas
em hebraico, é muito fácil se virar por lá, pois qualquer um - ou quase - falará
um inglês de bom nível).
Além disso, tenho de falar: o
povo israelense é MUITO educado, gentil e receptivo. Comigo, pelo menos. Fui
muito bem tratada (menos pelo carinha com jeito de Mossad que encasquetou com
meu amigo, e segurou nossos passaportes na entrada do país - mas eu também não
fui muito gentil com ele... imagina meu nível de humor e educação às 3 da
madruga, depois de voar de SP a Tel Aviv, com conexão em Istambul...), e não só
por pessoas de quem eu naturalmente já esperaria isso (do hostel, prestadores
de serviço, vendedores de loja etc), mas de qualquer um na rua para quem volta
e meia eu pedia informações (ou até não. Havia aqueles que simplesmente
percebiam a cara de perdida e vinham ajudar). Eu não fui pedir ajuda para
aqueles judeus ortodoxos, é claro, pois não sei como seria recebida, mas achei
legal quando a esposa de um deles parou para me ajudar!
E por fim, para não dizer que não
falei delas...
A praia de que mais gostei foi a Gordon Beach (até parece que conheci
tantas... mas é que elas são curtinhas mesmo). As praias são parecidas com as
do Brasil, mas sem os ambulantes vendendo coisas. Então se preferir, pode ficar
num dos bares, e tomar cervejinhas, e comer aperitivos, enquanto alterna alguns
mergulhos no mar. O que eu mais gostei foi da infra! Ai, gente, eu sou fresca,
adorei o fato dos banheiros serem limpinhos, de ter um monte de ducha, de ter
um lugar para lavar o pé e tirar aquela areia grudenta pouco antes de sair no
calçadão! Amei! ;o)
Ai, outra coisa muito engraçada
são os salva-vidas: os caras não param de falar, mandam as pessoas saírem do
mar (como se alguém fosse fazer isso efetivamente). E teve uma hora em que, na
falta de alguma coisa para dizer, um deles simplesmente pegou o microfone e soltou:
“Hey Jude, don’t make it bad. Take a sad song and make it better...” Hahahaha!
Figuraça!!!
É isso. Quem quiser saber mais
sobre como organizar a viagem para Israel e outras dicas, eu ainda não estou
cobrando pelos serviços, e ajudarei com a maior boa vontade! É só falar!"
Fotos: Patrícia I.
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