terça-feira, 22 de outubro de 2013

Post de Israel

Dando uma trégua nos posts de Istambul, seguem dicas de roteiro e comidinha da minha irmã durante sua jornada por Israel:

"Minha vontade de conhecer Israel sempre foi enigmática, para meus amigos e para mim mesma. Passo longe de ser religiosa (e por isso mesmo, não tenho preconceito contra nenhuma religião e respeito todas, desde que não me venham encher o saco...), tenho pouquíssimas ligações com o povo judaico (na verdade, acabo achando os judeus meio fechados mesmo, para quem não é da comunidade. Isso pode ter razões históricas, e eu posso compreender, mas vivendo no Brasil, hoje, isso, para mim, fica parecendo gostar de ir em “balada japa”, sabe?). Ok, mas enfim, vontade, graças a Deus, não se explica, e casou perfeitamente com minha vontade eterna de ir pra Turquia, apesar da novela...

Como não tínhamos tantos dias e o país é pequeno, foi fácil definir o roteiro: Jerusalém e Tel Aviv, sendo que de Jerusalém, teríamos a oportunidade fazer vários “day-trips”. Foram dois dias inteiros em Jerusalém, e três nos tais “day-trips”: um envolvendo Nazaré, Cafernaum, Mar da Galiléia e Rio Jordão (onde a galera pode fazer um “rebatismo” se estiver a fim), outro tour mais alternativo com um guia palestino, em que fomos para uma parte do território palestino da Cisjordânia (Belém e Hebron); e o último, para o nascer do sol em Masada (pensei que fosse morrer subindo aquele negócio naquele calor dos infernos - detalhe: ainda eram umas 5 da manhã. Foi mais difícil que Machu Picchu, juro! Tá bom, acho que isso é exagero da minha parte...), a reserva natural de Ein Gedi e um mergulho no Mar Negro.



Os dias foram mais do que intensos. Em Jerusalém, é muitas informação, é muita coisa acontecendo no mesmo lugar, é muito “pode isso, não pode aquilo” por razões milenares que vc vai ouvir mas já vai esquecer, é tanto lugar onde “Maria nasceu”, “Jesus chorou”,  “Jesus supostamente teve a última ceia”, “Jesus teve o rosto limpo por uma moça cujo nome não era, na verdade mesmo, Verônica”, “Jesus foi entregue aos soldados romanos”, “Jesus foi enterrado”, “Jesus foi crucificado”, “Maomé ascendeu aos céus”, é tanto lugar sagrado para todas religiões... Além disso, eu já tava preparada para essa discórdia árabe e judaica. E aí, você se depara com uns conflitos entre os cristãos (etíopes, ortodoxos russos, ortodoxos sírios, ortodoxos gregos, católico romanos - esses são só os que eu consigo me lembrar), que resultaram, inclusive, na divisão física de um lugar sagrado à milésima potência, que é a Igreja do Santo Sepulcro, que hoje, tem suas “salas” divididas entre essas religiões e ai de quem se atrever a varrer a área alheia...


Jerusalém é surreal. Não tem outra palavra para descrevê-la. Em qual outro lugar do mundo você vê meninos e meninas de 18 e poucos anos, empunhando a arma e aproveitando para tomar um solzinho (e depois de um tempo, passa a achar isso normal); vê pessoas discutindo com um guarda mega armado, para provar que é muçulmano para pode passar por um portão “X” e entrar numa área “Y”; e ao mesmo tempo, precisa abandonar todos sinais religiosos (Bíblia, cruz, estrela de Davi, Torá etc etc) para entrar nessa área “Y” e ver a coisa mais linda do mundo (o “Dome of the Rock”) com hora pra entrar e hora pra sair; e o melhor de todos, no bairro árabe, vc vê estrelas de Davi sendo vendidas ao lado de miniaturas do Corão, sem o menor pudor... Onde mais você vê isso? ;o)


Ao mesmo tempo, fora dos muros da cidade antiga, você tem uma cidade com pessoas jovens saindo à meia noite, pubs com ótimas cervejas locais, restaurantes, barzinhos, um sistema de transporte com trams modernos, uma das mais reconhecidas universidades do mundo, uma feira super bacana (a Machne Yehuda), comércio vivo (e que toca “Gustavo Lima e você” para chamar os clientes)...



Eu aproveitei aquela mesma companhia que oferece free tours em várias cidades europeias (a New Europe) para conhecer melhor Jerusalém. Fiz os três passeios oferecidos por eles: o free mesmo, que dá uma geral na cidade antiga, e outros dois que são pagos, e valem muito a pena: o Monte das Oliveiras e o Holy City Tour. Te prepara, que todos eles duram ao redor de umas 3 – 4 horas, vc anda muito e o sol é ESCALDANTE (aliás, única MEGA E CONSTANTE reclamação minha: calor!!!!)!!! E depois, me senti à vontade para me perder sozinha na cidade (apesar de quase não ter sobrado tempo, nem fôlego).

Dos tours para outras cidades, gostei muito dos três, mas tenho de destacar o que fiz com a Green Olive Tours para Belem e Hebron, cidades do território palestino da Cisjordânia. Eu já havia fechado este tour desde aqui do Brasil, depois de algumas pesquisas no Lonely Planet e no Trip Advisor, porque para mim, seria inconcebível ir para Israel e não ter uma ideiazinha do que era ser um palestino, do que envolvia a questão do outro ponto de vista, do por que alguém quer ficar num lugar em que tem direitos tão restritos. Amei o tour, estranhei o fato de um campo de refugiados se parecer com uma favela brasileira (em alguns sentidos), amei almoçar com uma família palestina, gostei do fato de que eles não se fizeram de coitadinhos, de que entendem que nem todo israelense é seu inimigo. Também entendo que eles não são a maioria, que os palestinos com quem conversei tinham muitos senões com seus líderes, e eles já eram diferenciados pelo simples fato de falar inglês (bem, diga-se de passagem). Mas eu achei que o cara disse uma coisa que nós, brasileiros, deveríamos entender bem: it is not just about peace, it is about justice.

Muro em Belém 
Grafite em campo de refugiados
Hebron
Por isso, eu não sei se os dois lados vão encontrar tal solução. Acho que um dia, possam viver em paz, mas nenhum dos lados vai achar a solução justa, sabe? Tive a sorte de conversar, de modo relativamente aberto, com jovens palestinos e israelenses, e acho que ambos estão cansadíssimos desta história toda, e de viverem sempre atentos, e sempre à beira de algo acontecer, mas ninguém é ingênuo em pensar que a solução é “basta querer”, não é fácil assim... A questão é, sim, religiosa, política, territorial, mas é totalmente econômica também. A diferença entre territórios palestinos e israelenses, do ponto de vista econômico, é gritante, e eu não sei como seria criar um país único com tanta diferença, ou dividir o país (e depois a Palestina viveria do quê? Das “doações” dos países árabes vizinhos...? Ahan, sei...)

De qualquer modo, eu, que não queria nem deveria me esticar neste aspecto, já me alonguei pra caramba, né? Mas é que a questão é tão latente que eu até achei estranho estar em Israel e não ver quase nenhuma referência ao Holocausto, por exemplo. Sei que há museus dedicados ao tema, mas não é como na Europa (Alemanha, principalmente) em que você tropeça (literalmente, já ouviu falar das stolpersteine?) em memórias. Não tinha pensado nisso, mas pensando bem, foi muito bom assim, Israel já tem coisa demais e eu não conseguiria lidar com mais informações e pensamentos (apesar de me interessar pelo assunto, e de haver visitado alguns museus e bairros judeus em outros lugares, estar em Auschwitz foi tão impactante para mim que deve ter esgotado a capacidade que tenho de encarar e digerir certos fatos da nossa história... de verdade... e pro resto da vida).

Tel Aviv parece outro país, não tem nada a ver com Jerusalém. Eu achei que Tel Aviv é a cara e o jeito da Zona Sul do Rio de Janeiro. As praias, os calçadões, as lojas de sucos, as pessoas andando de havaianas (há várias lojas de havaianas espelhadas pela cidade! Super sucesso!). Dizengoff poderia estar em Ipanema, e ninguém ia achar estranho. Rsrs! Mas tem algumas diferenças, claro: Tel Aviv é primeiro mundo, com todos privilégios que isso oferece (segurança, sistema de transporte eficiente e educação de primeira - Estou falando primeiramente do quesito formal: todo mundo fala inglês. Por isso, apesar das coisas estarem escritas em hebraico, é muito fácil se virar por lá, pois qualquer um - ou quase - falará um inglês de bom nível).



Além disso, tenho de falar: o povo israelense é MUITO educado, gentil e receptivo. Comigo, pelo menos. Fui muito bem tratada (menos pelo carinha com jeito de Mossad que encasquetou com meu amigo, e segurou nossos passaportes na entrada do país - mas eu também não fui muito gentil com ele... imagina meu nível de humor e educação às 3 da madruga, depois de voar de SP a Tel Aviv, com conexão em Istambul...), e não só por pessoas de quem eu naturalmente já esperaria isso (do hostel, prestadores de serviço, vendedores de loja etc), mas de qualquer um na rua para quem volta e meia eu pedia informações (ou até não. Havia aqueles que simplesmente percebiam a cara de perdida e vinham ajudar). Eu não fui pedir ajuda para aqueles judeus ortodoxos, é claro, pois não sei como seria recebida, mas achei legal quando a esposa de um deles parou para me ajudar!

E por fim, para não dizer que não falei delas...

A praia de que mais gostei foi a Gordon Beach (até parece que conheci tantas... mas é que elas são curtinhas mesmo). As praias são parecidas com as do Brasil, mas sem os ambulantes vendendo coisas. Então se preferir, pode ficar num dos bares, e tomar cervejinhas, e comer aperitivos, enquanto alterna alguns mergulhos no mar. O que eu mais gostei foi da infra! Ai, gente, eu sou fresca, adorei o fato dos banheiros serem limpinhos, de ter um monte de ducha, de ter um lugar para lavar o pé e tirar aquela areia grudenta pouco antes de sair no calçadão! Amei! ;o)


Ai, outra coisa muito engraçada são os salva-vidas: os caras não param de falar, mandam as pessoas saírem do mar (como se alguém fosse fazer isso efetivamente). E teve uma hora em que, na falta de alguma coisa para dizer, um deles simplesmente pegou o microfone e soltou: “Hey Jude, don’t make it bad. Take a sad song and make it better...” Hahahaha! Figuraça!!!

É isso. Quem quiser saber mais sobre como organizar a viagem para Israel e outras dicas, eu ainda não estou cobrando pelos serviços, e ajudarei com a maior boa vontade! É só falar!"

Fotos: Patrícia I.

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