quinta-feira, 29 de novembro de 2012

In the jungle, the mighty jungle...


Eu acho engraçado escrever sobre a “selva” porque, falando desse jeito, parece uma coisa “selvagem” de verdade... mas não foi nada selvagem a experiência que tive. Duas pré-adolescentes, também hóspedes, até usavam vestidinhos curtos e colantes com paetês (sic!) no jantar... Quão selvagem é isso?!?!
Concrete jungle!
Concrete jungle!

Foi por indicação de um amigo do trabalho, o Leandro, que comecei a ter ideias estapafúrdias de ir a um jungle lodge. Antes, nunca havia pensado com seriedade sobre o assunto e, quando passava pela cabeça, concluía que era coisa para gringo e marajá e nem ia atrás de informação alguma.
Fechei o pacote de 3d/2n no Anavilhanas Lodge por R$ 1.319 por pessoa, com todas as refeições e passeios + traslados de ida e volta para Manaus inclusos. Fora, ficavam somente as bebidas (os  preços são decentes – refris e sucos @ R$ 4,50, água @ R$ 3, cerveja @ R$ 6). Como base de comparação, o Ariaú Towers me cotou diretamente R$ 1.367 + 10%, e o Juma Lodge, R$ 1.298.

Sobre as instalações –
Infelizmente, os bangalôs estavam todos ocupados quando fiz a reserva.
Apesar de não ter TV no chalé (e eu sinto muita falta...), o quarto era bem confortável, com ar condicionado, rede numa varanda privativa, de cara com a mata. A decoração é muito charmosinha, com itens de artesanato local. O banheiro talvez carecesse de um tapa... Gosto muito de banheiros charmosos.
A recepção/lobby e o restaurante são abertos, no estilo tropical-chic do Aprazível - muita madeira de demolição e chita, entende?

A piscina é ridícula de legal! Numa área cercada de verde, com vista direta para o Rio Negro... meu lugar preferido no hotel!!! Linda!!!! Para melhorar – ela é 24h!!! Ok, não nadei de madrugada, mas sempre dávamos umas braçadas logo antes do jantar, quando estava vaziazinha! Uma delícia!

*como disse no outro post, a acidez do Rio Negro inibe a reprodução de mosquitos e só tive que usar repelente num passeio em que entramos mata adentro.

Sobre o serviço –
Todos os funcionários são simpaticíssimos e estão sempre dispostos a ajudar, com um sorriso no rosto.
Os guias também são muito bons, todos bi ou até trilíngues (ou, ao menos, passam o recado! Rs!). A grande maioria dos passeios, fiz com o Everaldo, guia há mais de 19 anos, um colombiano total abrasileirado, muito engraçado, que passou mais de 10 anos da sua infância num barco, subindo e descendo o Rio Amazonas com seus pais, vendendo mercadorias e combustível para as comunidades ribeirinhas. Uma figura, com muita história pra contar!
O Christian, outro guia com quem turistei, filho de pais indianos, nascido na Guiana (que foi colônia britânica), tinha um inglês muito bom. Depois de passar 41 dias atravessando a Selva (essa, sim, sem aspas e com letra maiúscula) entre a Guiana e o Brasil, ele também tem muuuuita história para contar. Só tem que aguentar um pouco o egocentrismo do homem...

Sobre os passeios –
No dia 1, chegamos pouco antes das 12h, após cerca de 3h na estrada (de asfalto, em situações relativamente boas). À tarde, nos embrenhamos numa trilha na mata. A atividade não é cansativa, pode ser feita por pessoas de todas as idades. Aprendemos sobre várias espécies de plantas, algumas ervas medicinais e alguns métodos de sobrevivência na selva.
Igapós

Gostei médio, porque 1) não vimos nenhum animal porque uma menininha do grupo não parou de falar desde que saiu da barriga da mãe pousada... e 2) no final, meu repelente estava perdendo efeito e fui exaustivamente perseguida por um bicho lá... o besouro/ vespa/ whatever me rondou e me seguiu até metade do caminho de volta, já às margens do rio!! Afe! Everaldo ainda ficou rindo da minha cara, disse que sempre há uma pessoa que atrai os bichos! Humpf!
Às 20h, encontramo-nos para uma focagem noturna, a bordo de um barco motorizado – um desastre...! O maior bicho que vimos de perto foi este besouro:

Hahahahaha!
Mentira... até vimos umas lagartixas uns jacarés, uma preguiça, uma sucuri e uma minhoca uma jiboia nadando no meio do rio... mas foi isso.

No dia 2, saímos de barco às 8h30 para ver os botos cor-de-rosa. Eu achei que não fosse gostar, mas adorei!
Fomos até a casa flutuante de uma família (curiosamente, **só de mulheres**) que praticamente cria os bichinhos. Eles estão soltos e podem ir e vir a seu bel prazer, mas, como há comida fácil 8x por dia, acabam voltando sempre. Hoje em dia, a alimentação é controlada e autorizada pelo Ibama, mas, na verdade, os botos começaram a “frequentar” o lugar há muito tempo, quando a família jogava os restos da comida do restaurante que administravam (inadvertidamente) no rio.


Não é permitido nadar com os botos, porque entende-se que os cosméticos, repelentes e protetores solares que usamos podem ser prejudiciais a eles e porque eles não deixam de ser animais silvestres, mas podemos tocar o seu pescoço enquanto as moças os alimentam. A pele é lisinha, lisinha!
Li nuns relatos que é possível nadar com os animais nos passeios do Ariaú. Apesar de parecer muito mais emocionante, não sei se sou muito favorável... não gosto da ideia de domesticação de animais silvestres.

Além de botos, o Rio Negro também é residência de tucuxis – muito parecidos com golfinhos. Não vimos nenhum de perto, mas eles estão sempre presentes – basta observar a água para ver suas nadadeiras saindo da água, como cavalgando!

Também passamos em uma ONG que recicla materiais para transformar em artesanato (papel em álbuns lindos, pedaços de madeira em animaizinhos e pratos decorativos etc.). Gostei do trabalho sustentável e, especialmente, da transparência da entidade – um balancete mensal é exibido para que todos possam acompanhar as contas:

À tarde, alimentamos pescamos piranhas! Fomos de barco até uma área autorizada pelo Ibama e... varas nas mãos, carne no anzol e dá-lhe paciência!!!
De japonesa, só tenho a cara mesmo, minha gente... porque não consegui pescar NENHUM peixinho que o valha! Mas vai ver que elas estavam bem alimentadas... porque, de 10 turistas, somente 3 foram bem sucedidas!! :o/

No dia 3, madrugamos às 5h para ver o nascer do sol entre as ilhas do arquipélago. Meu passeio favorito, sem sombra de dúvidas. Olha o visual:

Para melhorar, na volta, vimos vários jacarés às margens do rio, bem maiores que os que vimos na focagem noturna!

Não sei se é por causa da nacionalidade da maioria dos hóspedes (europeus), mas pontualidade é assunto sério no Anavilhanas! Desde o horário dos traslados até a saída dos passeios, passando pelo início das refeições... tudo acontece às badaladas do relógio!
É possível que você não curta isso... a Anna Bárbara do ótimo blog Nós no Mundo meteu bronca: “Me senti numa excursão! Nossa ideia de acordar tarde e tomar café da manhã com calma lendo um jornal foi por água abaixo.”, mas prefiro pensar que 1) os horários são necessários como forma de respeito a outros turistas, 2) os passeios, muitas vezes, precisam seguir os horários que a natureza impõe , 3) você pode escolher não fazer os passeios, se preferir dormir um pouco mais ou descansar à tarde... Se há um momento que não reclamo de acordar cedo, é durante as minhas férias!

Os passeios duram entre 1h30 e 2h30, com grupos de aproximadamente 6 pessoas e o tempo entre os passeios é suficiente para tirar aquela siestamerecida ou brincar um pouco na piscina ou nadar no rio (só recomendam não nadar à noite, quando há maior atividade animal). O cronograma das atividades é passado no momento do seu check-in.

Sobre a comida –
A comida foi a maior decepção da viagem. A questão não foi o gosto, que era bom (não extraordinário, mas suficientemente bom), mas, sim, a variedade. Pensei que, como a Alice no País das Guloseimas, comeríamos muito mais produtos locais, como tambaqui e pirarucu ao invés de... escalope de carne ao molho de vinho tinto (sic!)!!!! Tirando o tucumã (uma frutinha/ coquinho típico), com que recheava minha tapioca no café da manhã, praticamente não comi frutas (o abacaxi não estava suculento, e o melão estava sem gosto!)...
Uma pena.

Sobre a estação do ano –
Agora (nov/ dez), estamos no auge da seca no Norte. Agora, começando o inverno (sic!), as chuvas torrenciais vem e o nível do rio volta a aumentar (chegando a inacreditáveis 15m este ano).
Se tiver a oportunidade de escolher a época da sua viagem, escolha a cheia (jun/jul), quando é época de frutas e os macaquinhos se aproximam do hotel; os igapós (floresta inundada) se formam e a paisagem fica mais característica da Floresta Amazônica.
Imagine que Anavilhanas é o maior arquipélago de água doce do mundo, com cerca de 400 ilhas, e elas praticamente ficam completamente inundadas nesta época!
Deve ser muito mais bonito!!

Voltarei? Não sei... recomendo fortemente, mas acho que é um passeio que se faz uma vez na vida.
Para ir: com quem bem entender! Vi desde famílias grandes (com tio, primo, enteado etc.) a casais de namorados. Também vi desde criancinhas de 3 ou 4 anos a pessoas com bem mais de 65! E das mais diferentes nacionalidades - desde manauaras até noruegueses!
Tipojungle lodge de bem com a vida.

Fotos: Fernanda I. e Helio Kwon

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