sábado, 25 de junho de 2016

Miyama

Depois de Kyoto e antes de Tokyo, eu decidi que queria três coisas:
- visitar uma cidade com kayabukis (aquelas casinhas de telhado de palha bem típicas do Japão antigo, como a da irmã da bruxa do filme A Viagem de Chihiro);

- visitar uma cidade com aquelas casinhas de madeira e portas de papel, como se saídas de um filme de samurais;
- e hospedar-me em um ryokan (hospedarias tradicionais japonesas, onde você dorme no tatame, dorme de yukata, toma café da manhã típico japonês e cia.).

Uma das vilas de kayabukis mais famosas e turísticas do Japão é Shirakawa-go. Meus tios foram e se encantaram! Entretanto, eu não teria tempo de ir até lá e, pesquisando alternativas mais próximas ao meu caminho (no fantástico japan-guide.com), encontrei Miyama - bem perto de Kyoto!!
Miyama é uma cidade bem pequenininha, formada por algumas vilas, sendo a mais famosa (e com mais kayabukis) Kayabuki-no-sato. A vila é superpequenininha e facilmente coberta em apenas uma manhã de caminhada tranquila, mas, quem tiver mais tempo, pode alugar uma bike para explorar a região (cercada de montanhas e arrozais) ou fazer uma trilha (há várias por lá). É a cidade mais bucólica, charmosa, adorável que já vi na vida!

A região de Miyama é mais fria que Kyoto, então, as cerejeiras ainda estavam em full blossom!
Ok, decidida a cidade, restava saber onde ficaríamos hospedados. Acho que foi uma das coisas mais complicadas da viagem, porque não há muita informação disponível em inglês na internet. Mas uma coisa era certeza: queria ficar hospedada em um kayabuki de verdade!
Fiquei muito interessada no Miyama Futon & Breakfast, que é um AirBnb de kayabuki, mas eles tem uma política de estadia mínima de 2 noites, o que eu não conseguiria. Então, pesquisando um pouco mais, cheguei ao Minshuku Hisaya, uma das duas únicas hospedarias que ficam na vila de Kayabuki-no-sato! Consegui reservar pela Travel Arrange, com uma moça chamada Naomi, que deve ser a pessoa mais paciente do planeta (eu que sei!)!
A sala principal do "nosso" kayabuki
A vista do meu quarto
Minshuku Hisaya - onde ficamos hospedados
A experiência não poderia ter sido mais única.
Primeiro porque a casa era um kayabuki de verdade, com mais de 150 anos de idade! Segundo, os donos, um casal de senhores muito simpáticos (a senhora, inclusive, falava inglês suficiente para nos comunicarmos bem), prepararam jantar e café da manhã bem típicos japoneses, além de nossas camas de futon em cima do tatame. Terceiro porque a casa não tinha lugar para banho! Sim!! Como os japoneses faziam antigamente, fomos tomar banho numa casa de banhos!!! Hahahaha! (risada nervosa)
Gente, foi uma das experiências mais surreais da minha vida... ficar lá "como vim ao mundo" na frente de um monte de outras mulheres e crianças e depois entrar num ofurô coletivo. Mentira! Quando chegamos lá, só tinha uma mulher com duas crianças - e já estavam se secando para ir embora, mas foi estranho só de pensar que qualquer pessoa poderia entrar lá durante meu banho!
Minha prima e eu entramos na primeira sala, que é onde as pessoas se trocam e colocam seus pertences em armários trancados. Daí, você passa para a sala de banho em si, onde há uma piscina grande com água a 40°C (ofurô) onde você só deve entrar depois de lavar-se completamente. Isso, você faz nos chuveirinhos enfileirados ao longo da parede - você pega um banquinho, senta na frente do chuveirinho e vai se lavando. Eles providenciam shampoo, sabonete e uma toalhinha para você cobrir suas partes íntimas nos momentos mais... críticos...! Hahahaha!
Apesar de tudo, como o lugar estava bem vazio quando chegamos, não foi uma experiência ruim de todo. E ainda fazia séculos que eu não tomava banho de ofurô... é tão relaxante!!!

*Há ryokans bem chiques que tem ofurôs privados por quarto - às vezes, ao ar livre. Claro que são ryokans caros, mas... deve valer a pena, numa viagem assim especial!!!
*Você deve estar meio confuso com esse monte de termos referindo-se sempre a hoteis japoneses! Basicamente, pelo que entendi, minshukus são hospedarias pequenas, até mesmo casas de locais que recebem hóspedes (no caso do Hisaya, a casa, que só tinha dois quartos, era inteira nossa. O casal Nakano mora na casa à frente do kayabuki), enquanto ryokans são pousadas "de verdade", com um pouco mais de estrutura (falarei da minha experiência num ryokan no próximo post).

Falando mais da comida -
No jantar, comemos uma espécie de sukiyaki com frango da granja do Sr. Nakano e verduras colhidas da própria horta da casa. Coisa mais orgânica, impossível!! E, no café da manhã, comemos... um milhão de coisas! A principal refeição do japonês é o café da manhã - e eles comem comida "de verdade"! Tinha legumes ao vapor, peixe frito, arroz, misoshiru... muita coisa! Tudo fresquíssimo, como no jantar.


*Miyama é conhecida pelos derivados de leite. Aparentemente, o leite de lá tem ótima qualidade. Nem sei como, porque não vi vaca nenhuma... mas #ficaadica. Outra curiosidade é que, pesquisando sobre a cidade, descobri que há uma pizzaria com uma pizza que, teoricamente, é comparável às melhores italianas!! Hahahaha! Japão sempre surpreendendo! :)

Recomendo fortemente Miyama e o Minshuku Hisaya!
O grande inconveniente é que não dá para chegar de trem... você tem que pegar um trem de Kyoto, pegar um ônibus, descer e pegar outro. Eu tive a sorte de ter dois primos que moram no Japão e resolveram passar o fim de semana comigo. Mas, quem não lê UM kanji que seja, como eu, pode ficar um tanto receoso de se embrenhar pelo interior do Japão! (o que eu acho besteira. Nada de ruim pode te acontecer nem ficando perdido!)

Fotos: @autoindulgente e @fernanda.i

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